[procedimento II]
Na pesquisa prática aonde mergulhamos não há certo ou errado, ou um
lugar definido aonde queiramos chegar. O mais importante é o processo
que descobrimos juntos a cada dia, a cada encontro.
Na mistura dos nossos suores e dos nossos espíritos, das nossas
individualidades com os seres que estamos descobrindo juntos a cada
dia. Mistura esta do ator com seu personagem e o universo que o
constitui.
Na peça de Julio Zanotta, encontramo-nos em um lugar (ou não lugar)
onde penso que todos os atores gostariam de entrar, um limbo povoado
pelos “personagens reais” de Shakespeare.
Lugar onde estes personagens incorpóreos existem sem a necessidade
prévia de um ator.
(Concordo como o que disse uma vez uma atriz em uma entrevista, que
penso ser Fernanda Montenegro; Estamos sempre aquém do personagem, é
como se nunca o alcançássemos totalmente, como se nós atores
estivéssemos sempre devendo para nossos personagens uma interpretação
mais fiel, mais precisa.)
E quais personagens mais complexos, fascinantes e desafiadores do que
os de Shakespeare, o pai da dramaturgia moderna?
Em Mikshakespeare podemos entrar neste limbo onde os personagens de
nosso desejo, de nossa pulsão de representar, vagam em sua foram
original. E lá bebê-los, amá-los, devir-los.
Estamos a adentrar neste lugar lírico-abstrato, com o maior dos
prazeres e o maior dos medos. Ser ator já é em si a metáfora do “ser”,
é estar prestes a jogar-se de um penhasco.
O paradoxo da representação é ser E não ser a um só tempo.
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